Ônix (Edição Premiere), de William Morais

Ônix é um livro inesperado, contemplativo e divertido!


Esta resenha é sobre o livro Ônix, em sua edição Premiere, que é muito aproximada desta edição definitiva, da capa ao lado. Escrita pelo multiartista William Morais, a história trata sobre as aventuras do pilantra e renomado pirata Ônix e toda sua influência em um mundo pós-apocalíptico, que séculos depois deste tempo de 2017, vive mais uma vez como na Era Medieval; toda a alta tecnologia banida por suas possibilidades perigosas. Okay, um pirata pilantra e renomado é coisa que vemos às pencas por aí... Mas não como Ônix... O pirata usa suas sem-vergonhices não só para humorizar geral, mas para mascarar sabedoria e revelia tremendas, capazes de confrontar reis poderosos e capitães temíveis em prol de seus objetivos misteriosos. A riqueza temática da obra me traz até dificuldades para sinopseá-la, mas vou afirmar aqui que o livro é uma aventura pirata fora da caixa, como ninguém nunca viu antes e sem sensacionalismo. Se eu pudesse, eu inventaria um gênero novo para enquadrar o livro, com o nome de “Fantasia Filosófica” ou “Fantalosofia” ou ainda “Aventura Filosófica”, mas melhor deixá-la desenquadrada mesmo, já que de quadrado esse livro não tem nada.

O livro se distingue de muitos clássicos e mainstreamers da fantasia atual por não ter um caráter muito descritivo, no que diz respeito ao cenário e aos espaços citados na história. O autor é simplista nesse ponto, bastando para ele definir panoramicamente onde os personagens se encontram, mas sem muitas mirabolisses. Isso se dá porque o estilo narrativo de William tem um foco muito empenhado nos diálogos; logo, não são tão necessárias descrições mais arrojadas do que as que ele nos deixa, as quais são precisas o suficiente para compor o setting da história. O efeito disso no leitor faz com que ele “ouça” melhor os elaborados diálogos da trama e possa se deliciar com suas muitas metáforas, poesias, trocadilhos e jogos de palavras. 

O autor constrói bem seus personagens a partir de seu estilo dialógico da narrativa e o destaque maior vai para o protagonista e suas falas espontâneas; o que não quer dizer que muitos outros personagens deixem de roubar a cena um bocado de vezes, já que quase todos os personagens de William fazem umas declarações geniais. Por um lado, essa literatura mais “conversada” dá um ar muito teatral ao livro e, por muitas das vezes, nos sentimos como se estivéssemos em uma Taverna (do Coelho Caolho), assistindo a coisa acontecer ao vivo. Por outro lado, se um personagem for mais silencioso e macambúzio, as chances dessa falta de evidência reduzi-lo a um instrumento de trama é considerável, como senti em um personagem; o que não deve ser considerado negativamente, já que nem sempre é objetivo de um autor organicizar e prospectar empatia com todos os personagens do livro.

A linguagem do autor é satírica, inescrupulosa, e a escrita dribla, prega peças e brinca com o leitor durante todo o livro. Há riqueza de conotações, figuras de linguagem constantes e todo parágrafo pode quebrar sua expectativa. Com estilo segmentado, trabalhado com apostos, o ritmo da leitura te conduz a uma velocidade confortável para respirar e pensar sobre aquilo que se está lendo, estratégia cada vez mais rara nos leitores imediatistas de nossa contemporaneidade. Para atmosferizar ainda mais o caráter reflexivo da obra, os focos de trama mudam a todo instante, ziguezagueando por entre diferentes tempos; em um momento você está no presente, então quando chega a um instante decisivo, você se depara com um capítulo do passado, onde a solução para aquele problema é explicado, então você migra de repente para o futuro, onde já é possível perceber consequências de como o presente deve ter se concluído, até que você retorna de vez ao presente, e o maldito acontecimento ainda consegue te surpreender... Na verdade, falar do tempo dessa obra é complicado, já que o autor trabalha uma metalinguagem muito interessante que permite deixar de ver o tempo como algo linear. Tal dinamismo cronológico nos põe em check em boa parte do livro, nos desafia a montar o quebra-cabeça da trama e, a cada fim de capítulo, você nunca sabe onde vai parar. Um dos recursos principais para nos causar identificação para com seu livro se baseia num truque metalinguístico: o escritor nos presenteia com alguns capítulos interlúdicos que criam um fascinante elo entre o mundo do livro e nosso próprio mundo, e arrematam com primazia a comunhão entre a realidade e a fantasia; ambas “verdades” na bem embasada concepção da obra.

Todos esses detalhes compõe uma fortaleza filosófica proposta por William. Muitos dilemas amorais, cinzentos, nos são apresentados ao decorrer da história, e na maioria das vezes a solução é inesperada. Por meio desses dilemas, o autor nos convida a refletir questões humanas, mundanas ou essenciais, sob um novo viés, de um mastro bem mais alto que as muretas baixas do navio atabalhoado da vida. A obra inteira é uma mensagem que reflete sobre o refletir, discorrendo sobre nosso lugar neste mundo e em todos os outros, o valor que a realidade, a fantasia e a verdade compartilham e o quanto perdemos e ganhamos ao aceitar/negar o desafio da (sobre)vivência. 

Não sei ainda quando o autor vai disponibilizar novas vendas do livro, mas sinto-me um grande privilegiado de ter conseguido a adquirir na mão do próprio. E mais privilegiado ainda por saber que Ônix é só o primeiro volume da audaciosa Saga do Novo Tempo. Se você é um aventureiro e um pensador, fique atento ao www.portalwm.com por notícias de novas tiragens de Ônix; se não, sempre há espaço para mais marujos no navio do pirata, principalmente aos que sabem escolher.

O Autor

O bem-humorado e irônico autor William Morais formou-se como técnico contábil, área em que trabalhou por 3 anos, mas encontrou sua verdadeira vocação em contar histórias, e das mais variadas formas. Assim, William vai bem além da Literatura e questiona valores de nossa sociedade e conflitos humanos por meio de seus tantos vieses artísticos, como artes plásticas, teatro, cartoons, jogos de mesa e diversos projetos. Um dos diferenciais de suas produções é que elas geralmente usam como pano de fundo influências dos gêneros Fantasia e Aventura, mas com referências e elos pautados em nosso mundo real. Real? Em verdade, a palavra "Real" muda muito de conotação depois de você entrar em contato com o trabalho do autor; assim como a palavra "verdade". Sem demagogias, o trabalho literário e todos os demais do multiartista é de uma qualidade única, principalmente para aqueles que gostam de diversão inteligente e não têm preguiça de pensar.

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